sexta-feira, 18 de junho de 2010

Escola: terra de ninguém?

Sou professor da rede pública estadual do Estado de São Paulo há três anos, atuo no ensino fundamental II, e aos sábados presto serviço voluntário numa ong que atende jovens carentes oriundos da escola pública, que almejam ingressar numa Universidade, oferecendo-lhes curso preparatório para o ENEM e vestibulares desde 2005, e apesar do pouco tempo acredito que apontar a progressão continuada como uma das vilãs do fracasso no aprendizado dos alunos é uma opinião no mínimo precipitada e se enquadra no que chamamos de senso comum. Evidentemente que o sistema da progressão continuada apresenta uma série de limitações na sua efetiva aplicabilidade, entre elas destaco a forma como foi implantado, subitamente, há cerca de dez anos atrás, o que contribuiu bastante para o surgimento de um mito comum entre professores, de que progressão continuada é sinônimo de aprovação automática. Com isso o professor deixou de agir nas deficiências do educando, mesmo quando claramente detectadas, pois segundo a tradição o aluno não tem direito de dizer o que quer aprender, mas simplesmente aprender o que o professor sabe e quer ensinar. A partir desse gargalo pedagógico se instala uma guerra silenciosa entre educador e educando, ambos ancorados em portos opostos, de onde acreditam estarem seguros que seus atos de resistência a qualquer mudança sejam sinônimos de cidadania em defesa da escola pública. Ledo engano. Neste momento parece-me que desenvolver políticas que amenizem a imparcialidade entre os principais atores deste longo processo, será um brilhante começo. Por outro lado faz-se necessário dividi responsabilidades conforme prever a Constituição Federal e a lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) que prevêem não só o professor como fiel escudeiro do construto educativo, mas toda sociedade, sem exceção. A escola não é terra de ninguém, e sim o fórum adequado para a prática da plena democracia. Para isso será preciso trazer todos para um amplo debate.Porque apontar a progressão continuada como pretexto para o baixo desempenho do alunado é um discurso fragilizado pelo, já citado, gargalo pedagógico aliado a uma série de outras causas, como: super lotação, falta de interesse do aluno, resignificação do espaço escolar, valorização do profissional de educação e, sobretudo no que diz respeito à formação do professor que precisa urgentemente passar por uma reformulação de currículo. Neste item seria mister acrescentar questões relacionadas à Sociologia focada especificamente na realidade social do suposto aluno, como formação básica para todos os cursos de licenciaturas.

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